sábado, 21 de janeiro de 2012

Entrevista com Rodrigo.



“Eu não era gato, não tinha um perfil Globo, não sabia contar piada. Tinha tudo para dar tudo errado.” A mãe de Rodrigo Sant’Anna, de 30 anos, reforçava o possível desastre profissional à vista: “Isso não vai dar certo!”. Ainda assim, o garoto, que corria pelo Morro do Macaco, no Rio de Janeiro, queria estudar, descobrir Chico e Caetano, dar uma casa nova para a família e não virar bandido como alguns colegas vinham se tornando. Ao gargalhar com as piadas de Chico Anysio, e da dupla Caco Antibes (Miguel Falabella) e Magda (Marisa Orth), de Sai de Baixo (1996), ele via uma chance na carreira de ator.
“Você é tímido. Vai pegar um diploma”, dizia a mãe. Rodrigo, de fato, não era descolado. Gostava de ficar em seu canto. Quando ficava chateado, sentava-se no portão da casa de sua madrinha, no Morro do Macaco, e esticava os olhos para o resto da comunidade. Despertar para a arte, de fato, parecia impossível. Então, lá foi Rodrigo pegar o tal canudo.
Aos 18 anos, foi levado pelas doutrinas freudianas e fez um curso noturno de Psicologia – nessa época, deixou o morro, porque, à noite, rolavam muitos tiros. “Mas sou ansioso, inquieto, teimoso”, diz ele.
Aos 24 anos, lá foi o carioca atrás do sonho de interpretar. Na Casa de Artes Laranjeiras (CAL), criou apreço pelas encenações. Formado, sem grandes pretensões, dirigiu, atuou e escreveu Os Suburbanos. Em cinco anos em cartaz, em diferentes palcos do Rio, arrebanhou meio milhão de espectadores. Entre eles, Renato Aragão – que o convidou para A Turma do Didi – e, em 2009, o diretor do Zorra Total Maurício Sherman.
O personagem Adimilson, o tal ex-namorado malandro de Lady Kate (Katiuscia Canoro), caiu nas graças do público e, logo, explodiu um novo hit: “Ai, como eu tô bandida”. O jargão de Valéria – que prefere ser chamada de assessora de poeiras e detritos, e não de faxineira – ganhou um funk (de Mc Koringa e DJ Woody), que rendeu mais de seis milhões de cliques no YouTube, espaço generoso no humorístico Zorra Total (veja box ao lado) e repercussão. “Atravesso a rua e escuto: ‘Bandida’”, diz o ator.
“Pois é, a minha mãe errou”, brinca Rodrigo, diante de mil pessoas, no HSBC Brasil, onde se apresenta, em São Paulo, nos dias 24 e 25 com o Comício Gargalhada. O público, outra vez, se diverte com o artista. Nem por isso, com tamanha evidência, ele deixa de ser tímido. Não por acaso, já se escondeu num camarim da Globo para não ter de cumprimentar o mestre do humor Chico Anysio e ficou travado ao conhecer Miguel Falabella. “Quando estou atuando, eu consigo me esconder atrás daquelas figuras. Mas sou muito tímido, ‘crisado’…” O que seria isso? “Eu entro em crise com tudo. Se saio de um show e acho que não fui bem, nem consigo comer.”
A volta para o teatro
A apresentação que o JT assistiu na última quarta-feira foi um desses casos. “Achei que não dei meu máximo”, diz ele. A reação do público, porém, provou o contrário. Com os deboches da mendiga Adelaide e dos candidatos políticos Vanderlay das Almas (o sensitivo), Sara Menininha (cantora de axé), Frango de Padaria (que pede aos candidatos para pararem de colocar farofa no anus das aves) e outros, o palco tornou-se um horário eleitoral bizarro. Com Rodrigo munido apenas de um microfone e alguns adereços, o público riu, sem parar. “Aquele presidente do dedinho tem diploma do quê?”, pergunta Adelaide, mãe da Briti Spear. Em seguida, Sara Menininha canta seu hit Panela, versão de Umbrella, de Rihanna, em busca de eleitores: “Ela, ela, ela, ela. Tem dendê na boquinha da panela”. As piadas do show, dirigido por Thalita Carauta (parceira do Zorra Total e amiga) não são sofisticadas. Ainda assim, a plateia gosta do que vê. “Meus personagens são favelados. Tem, mesmo, essa levada bagaceira. Essa é minha origem”, diz Rodrigo

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